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Eles vem nos visitar

    Andava meio distraído e desanimado, já era final de setembro e nada de bom havia acontecido na minha vida no decorrer daquele ano. Decidi então que no próximo mês eu me isolaria. Era minhas férias trabalhistas, já que não iria viajar, faria uma lista de coisas bacanas que eu gosto e assim passaria o meu mês de outubro, sem muitas surpresas e sem muitas decepções. Principalmente sem ninguém no meu pé, sem aparelhos telefônicos tocando o tempo todo, sem notificações de e-mail na tela do meu computador, sem o café com gosto de pano que Marisa preparava todas as manhãs no escritório e ninguém tinha coragem de reprimi-la, eu memo prepararia o meu próprio café, forte e sem açúcar. Graças a Deus havia chegado a minha paz, eu já sentia o cheiro do descanso e da liberdade prontinhos para invadir a vida.        É chegado o último dia de trabalho, meu sorriso quer sair, mas eu seguro. Minimizo meus pensamentos positivos, é o último dia, mas ainda é dia, tenho alg...

Andar 138

  Andar 138       O hospital era antigo, a estrutura era velha, em alguns locais ainda cheirava mofo, não se via o mofo, mas o cheiro em alguns corredores, era penetrante, fazia com que eu e Lalinda saíssemos espirrando toda vez que tínhamos que descer ao subsolo para arrumar o estoque de remédios para asma, olha a ironia fazendo seus desvios.   Os elevadores foram consertados e aparentavam ser novos, mas só aparentavam mesmo, trabalhávamos ali há anos e sabíamos o quanto aquele lugar era velho e pavoroso. Quando eu fazia o turno da noite, tentava não escutar ruídos, nem qualquer tipo de som que viesse lá debaixo, mas era impossível, tinha que fazer silêncio total para poder escutar os pacientes, o telefone, ou algo emergencial, então, eu acabava escutando todo o resto, mesmo sem querer, às vezes sentia que alguém estava me observando do corredor, bem na porta onde dava aos dois elevadores, mas eu nunca me atrevi a olhar, era muito escuro, e a luz quando f...

Resenha do livro "Mortes em contos"

      Já pensou em acordar e dar de cara com o seu assassino? O homem que te humilhou, que te sujou, que te usou e fez perder tudo que você mais amava em vida? Como seria acordar e poder acompanhar a vida das pessoas que não acreditaram em você quando mais precisava? Poder acompanhar cada passo, cada ação. Como seria se você partisse e do outro lado à vida fosse tão complicada quanto desse lado?   Deixe-me explicar melhor, uma das piores dores da vida de uma adolescente é confiar nas pessoas erradas, dedicar um tempo á mais para quem não sabe apreciá-lo. Decepcionar-se com o romantismo nessa fase é um grande aprendizado que levamos para a vida toda, aprendemos como devemos ou não agir, aprendemos quais características valorizar, quais palavras dizer ou não dizer. É nessa fase que vamos crescendo emocionalmente e deixando a flor da pele os nossos sentimentos, tudo é mais intenso, tudo é mais complexo, quase tudo nos magoa, quase tudo nos deixa com raiva. Mas conseguir...

Poema a mim mesma

Poema a mim mesma     Quero ver-te feliz Quero ver-te em paz Quero ver-te longe de minha ausência Quero ver-te em minha consciência   Verei a mim como vejo o teu reflexo nu Verei a mim como o doce olhar de uma criança em segurança de sua mãe Verei a mim no conforto do meu profundo gritar Verei a mim na fumaça que esvaíra pelo ar e desaparece no tempo   Olharei no horizonte e ficarei alegre com meu contentamento Buscarei a maré tranquila que há tempos ninguém me presenteava Encontrarei no subúrbio de minha mente a mais bela poesia para a burguesia Sentirei o meu pesar esmaecer e me transformarei num belo ser.

De homem para homem

  De homem para homem     Rodolfo, foi um homem honesto, justo e compreensível, amava sua esposa Ana e suas filhas Clara e Victória, até que foi morto, foi assassinado cruelmente na frente de sua residência, baleado por uma pessoa que acelerou o carro e sumirá na primeira direita. Foi isso que dona Linda contou aos policiais quando foi depor, era vizinha da frente da casa do falecido, era amiga de Ana, tricotavam juntas tomando chá e as conversas fluíam sobre os filhos e maridos do bairro todo.   Linda não viu a placa do carro e nem o rosto de quem o dirigia, não sabia se era homem ou mulher, ficou assustada em sua janelinha, paralisada por alguns segundos, não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Com sua fase amedrontada, misturada com o cabelo grisalho que voava ao vento naquela noite fria, viu seu vizinho ser baleado a sangue frio, sob a luz do poste e a lua clara que testemunhara com ela, aquele terrível fato. Só conseguiu depor, dias depois, pois ainda...

Telhadinho

Telhadinho   Eu olho daqui de cima Esse monte de telhadinhos Cada telhadinho tem uma história guardada debaixo dele Se os telhadinhos nos contassem um pouco de suas histórias Seriamos mais ricos Ou mais pobres Cada vida debaixo do seu telhadinho O telhadinho significa tanto, abriga tanta bagagem de tanta gente É emocionante observar os telhadinhos e tentar adivinhar quais são suas histórias Mas nunca saberemos Obrigada por me dar esse sentimento telhadinho. (publicado em 2021 na coletânea "Alvorada poética") 

o retrato escrito de meus amados

           O retrato escrito de meus amados     Genevive Spartamoon, esse era o nome dela, jovem, bela, sorriso encantador. Ela sabia as palavras certas para cada momento seu, ela sabia curar a dor com aquele sorriso maravilhoso naqueles tempos tão ásperos e sombrios. Os guerreiros das terras distantes, estavam voltando, vinham com tudo para acabar com o nosso povo, estávamos amedrontados e infelizes, nunca lutamos sem Genevive, ela era nossa espada mágica nas batalhas, ela dava as ordens, ela nos guiava, nos preparava e encorajava, saia ferida, mas nunca derrotada, sempre sobrevivia as batalhas e defendia nosso povo, ela era tudo para nós, uma mãe, uma professora, uma mestre, uma conselheira e protetora, não havia nada que ela não faria por nós. Porem em sua última batalha, Genevive já não era mais a mesma, estava fraca, perdeu seu equilíbrio, a metástase já estava em estado avançado, mas ela ainda era forte, sabia que partiria em ...